quarta-feira, 14 de julho de 2010

Fatal

Quero que partas. Não quero que quebres, que deixes os teus estilhaços nas minhas mãos. Sangro sem parar enquanto tu te deleitas pecaminosamente. Levas num bolso um jeito de decência, e no outro uma decadência que parece só a mim me afectar.
Esta noite vou abandonar-te sem sequer notares. Vou ponteando num silêncio ensurdecedor, e o nosso fim chega sem a vontade de ambos.
Merecíamos melhor. Deixamo-nos ficar antes do nascer do dia, morremos sem pedir, sem notar, sem resistir.







Quero que partas e quero-te aqui. Nunca te desejei tanto como agora. O teu perfume, o teu olhar que se transforma em meu, a eterna facilidade física. Tenho um nó na garganta do tamanho de tudo o que é teu.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Storm


Janeiro nunca foi meu, nunca prometeu, sempre duvidou. Janeiro provocou-me o grande amor, único de uma vida, só me sufocou.
Quis-te abraçar Janeiro, mas nunca permitiste, sempre me afastaste. Desejei o teu beijo intensamente, e em troca deste-me espinhos, algumas rosas murchas, outras queimadas pela neve.
Em Janeiro delirei, afoguei-me em gotas de insanidade e depressa mergulhei no incerto. Já me construí, já me ruí.
Janeiro, que tantas mágoas me ofereceste, e agora à loucura te rendeste. Sou eu que te possuo agora, vem agora, impotente, ver-me erguer de novo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Baú


11-02-2009, esboço do que marcou a minha eterna inocência:

É-me difícil imaginar alguma coisa sem ti. É o teu perfume presente matinalmente, o teu sorriso pronto e o beijo na minha face, assim se vai desfiando o meu dia-a-dia. Ainda sinto o rosto húmido, não das já banais lágrimas, mas da tua última mordidela carinhosa.
Isto não pode ser mais nada a não ser amor. Amor abafado, reprimido, esmagado. Amar alguém que ama outrém.
Como eu gostava de te amar abertamente. Começava por te beijar os olhos e abraçar-te no infinito dos teus lábios. Agarrar o teu sorriso e fechá-lo em mim.
Quero-te feliz, leio-te a alma e não te sinto. Já nem sabes o que significa um imprevisto.
Vê-me aqui, meu mundo. Antes de tudo, quero partir a realidade aos pedaços e devolver-ta transformando-a em fogo.
Ser eu mesma sendo nós. É doloroso, deixa-me repousar num mar de doçura.
Mas é tudo tão lento porque estás longe. Saber onde andas causa-me náuseas. Entregue a um corpo que não é o meu, tudo é frio e dormente.
Embala-me meu tudo, esta noite vai ser conturbada se não estiveres comigo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009


Hoje amei-te mais um bocadinho. Como se o facto de me teres abandonado quando estava na minha ruína não tivesse qualquer importância. Amei-te porque sobrevivi a mais um dia sem a tua fria respiração.
Se tu soubesses… Que o meu amor persiste, luta, é convicto, é teimoso! Eu prossigo na cidade capital da cultura, vivo, sorrio o mais que posso, faço o que a mim me diz respeito. E um só pensamento sobre a tua presença fantasma ainda me arrepia.
Seria melhor contigo, raio de Sol da vida de uma multidão. Seria melhor sem ti, culpa que carreguei tão longamente aos ombros.
Sinto-me cansada, o meu velho e esburacado amor não me deixa. Se ao menos um dia destes qualquer me olhasses entre os espelhos… Não precisas de abrir essa boca de desejo, fica só assim.
É a falta de alguém que prometi não largar da minha existência.
Mas se isto te incomoda, ignora, não deve ser assim tão importante.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009


Escorrem gotas, pingam do nada que sou para o infinito.
Escorrem velhas gotas frias e arrependidas, que quando eram jovens ferviam e precipitavam-se.
Escorre um gota pela minha nuca, que me fere até às lágrimas, que me desespera, que te tira de mim.
Escorrem gotas quentes que serpenteiam desde a minha gasta alma até ao teu indiferente coração.
Escorrem gotas vermelhas de ausência, do vazio e do absoluto que já fui, da irrelevância que agora sou.
Uma pequena gota de atracção, afasta de mim o cinzento carregado.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tracy's Flaw


És um estranho e raro ser. A tua face mente, conta mais lendas do que aquelas que realmente viveste. Em cada traço ou expressão há uma tónica de experiência que inocentemente não reconheço.
São os teus olhos. Perfeitamente rasgados, escuros como a noite melancólica já vivida. São eles quem sigo, a quem me dou, a quem me rendo.
São as tuas faces. Brancas e tocáveis. Macias, envoltas na barba da manhã de ontem.
São os teus lábios. Esculpidos pela natureza, doces e sempre abertos num sorriso.
Posso dizer que é a forma como falas. Mais claramente é impossível, a eloquência é tua escrava. E porque tens que acrescentar sempre um toque de humor inteligente quando me sussurras?
Acrescento a forma como gesticulas. É a segurança, é o domínio, é a protecção. Envolves-me nos teus braços sem me tocares. Guardas-me neles sem me olhares.
No fim, resta a forma como intuis o que preciso, e mais extremamente, o que sou.
Grito para ser tua, nem sequer imaginas a minha sombra.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ir à Volta


Tudo foi para ti. Já se esgotou a liberdade de escrita. Apenas posso reflectir sobre uma meia dúzia de acontecimentos, que sustentam uma vida. Passagens, nuvens, nevoeiro denso. Inverno cerrado e um extraordinário dia de neve. Tento escrever para os Homens e não para mim. Ou melhor dizendo, para ti. Começo uma frase no Norte e encontro-te nela no Sul. Escrevo sobre uma folha seca, solta e abandonada no chão cru, e logo imagino a forma do teu coração. Quente ou frio, só Deus sabe, escalda o meu.
Cansei-me, fala-me tu agora. Recita poemas, discursa frases exclusivamente tuas. Fala de política, de economia, uma só banalidade explodiria comigo. Canta-me ao ouvido algo que me faça sorrir, uma simples frase cheia de graça.
Não voltas, encolho os ombros, eu sei disso. Não sou pessoa de guardar lugar cativo.














Admiro-te sempre, amigo de uma vida.